sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Sobrevivendo à semana de adaptação

Aí eu escolhi a escola. Aí eu dei um monte de cheques pra pagar uniforme, matrícula, taxa de lanche, taxa de material, taxa de lixo, taxa de luz, taxa de água. Impressionante! O que dá, eles te cobram. Enfim... Aí chegou o dia da ADAPTAÇÃO. Adaptação do filho à escola. Mas eu diria também "adaptação da mãe à escola". 

Depois de alguns meses full time com o pequeno, a par de tudo o que acontece na vida dele, você terá que deixá-lo nas mãos de desconhecidos, sem saber o que ele está fazendo, pensando, sentindo. E, preciso te dizer, a sua cabeça irá te atormentar com uma lista de dúvidas e inseguranças (desde as mais coerentes, até as mais esdrúxulas):
- Ele vai ser bem cuidado?
- Será que vão ver se ele está comendo direito?
- E se outra criança morder ele?
- Será que a professora tem paciência com criança? Ou vai tascar-lhe um beliscão quando fizer birra?
- Será que ele vai se sentir abandonado?

Para amenizar o sofrimento (ou não), existe a tal semana de adaptação. Você fica com o seu filho na escola, observa a rotina das crianças, participa do momento no qual os vínculos com o novo ambiente estão sendo construídos. 

Comigo foi assim:
Nos três primeiros dias de aula, fiquei o tempo todo com o Felipe, porém, no papel de coadjuvante. Conheci os funcionários, acompanhei a troca de fralda, vi o cuidado que eles têm com a segurança dos alunos e dei um jeito em boa parte dos meus fantasmas em relação à escola.

No colo, o Felipe observava curioso aquele monte de novidade. A professora tentava, muito discretamente, ganhar sua confiança. Aos poucos, ele se desgrudou dos meus braços para ver o que tinha no tanque de areia. Caminhou um pouco mais longe para pegar um brinquedo qualquer (sempre se certificando de que eu permanecia ali). Brincou na quadra, tomou lanche na classe e parecia estar indo bem. 

No quarto dia, me disseram para ficar na escola, mas fora do seu campo de visão. Se ele reclamasse demais, a professora o levaria até mim, mostrando que eu continuava por perto. Não precisou. Aí, no quinto dia, apareceu um compromisso perto da escola e achei que não haveria problemas em deixá-lo lá. Conversei com a coordenadora e pedi que ela me ligasse se necessário. Saí confiante, crente que o pequeno estava pronto para desbravar os muros da Garatuja.

Não estava! Me ligaram, eu voltei correndo. Cheguei na sala de aula e o Felipinho chorava de soluçar. Me senti um lixo e percebi que tinha pulado etapas no processo de adaptação dele. Resultado: mais três dias dentro da escola, acompanhando sua rotina. 

A partir daí, o Felipe tirou de letra. Acostumou-se ao novo espaço, construiu vínculos com a professora e com os outros funcionários, começou a sorrir ao chegar no portão branco da Garatuja. 

E eu? Bem... Também me adaptei ao início da vida escolar do Felipe. Mas tenho que admitir: a melhor hora do dia é a hora da saída, quando ele pula no meu colo, me dá um abraço apertado, um beijo grudento e fala "sadadi mamãe". 


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Projeto doutorado

O Felipe fez um ano e eu tomei a decisão: hora de colocar na escola. Para interagir com outras crianças, receber novos estímulos, sair um pouco de casa. Aí comecei a peregrinação pelas escolas do bairro. Sim, porque o fator distância tem que ser levado em conta. E nessas andanças vi de tudo: aquela casinha que foi adaptada para receber crianças; lugares sujos; espaços bacanas; preços astronômicos; propostas duvidosas etc.

Eu, particularmente, procurava uma escola considerando os seguintes aspectos (não exatamente nessa ordem de prioridade):

- proximidade de casa: cômodo para os pais e, principalmente, para a criança.

- espaço: a minha ideia era tirar o Felipe de dentro do apartamento, porque ele precisava de espaço. Um espaço legal onde ele pudesse explorar o mundo. E um lugar que, caso chovesse, ele não precisasse ficar infurnado na sala de aula.

- segurança: proteção nas janelas, escadas, tomadas etc.

- higiene: jamais deixaria meu filho em um lugar sujo, feio e pouco acolhedor.

- proposta pedagógica: o que a escola tem a oferecer no que diz respeito ao desenvolvimento dos pequenos.

- professores: babá eu tenho em casa. Queria gente formada em Pedagogia ou Psicologia, que conhecesse a fundo o universo infantil e tivesse total consciência da importância do seu trabalho.

- preço: claro que uma escola séria, com professores experientes e graduados, não será uma escola barata. Mas vi muita coisa por aí que extrapola. Quatro horas de "estudo" a mais de R$ 2000,00. Como assim? Meu bebê vai sair falando alemão, latim e já sabendo o que é logarítimo? Nem barata, nem cara. Queria uma escola com preço honesto!

- número de alunos por sala de aula: as crianças pequenas precisam de muitos cuidados e atenção, então, é importante ver quantos alunos ficam sob responsabilidade de um professor. E, de preferência, de uma auxiliar também.

Fiquei em dúvida entre duas escolas e acabei escolhendo a mais longe de casa (oito minutos de carro), pela qualidade da equipe de professores - todos formados e com mais de dois anos de experiência; e pelo espaço - quadra, parquinho de terra, parquinho de areia coberto, sala de artes, sala de teatro, biblioteca... No final das contas, tenho certeza de que acertamos o lugar. Porque toda vez que o Felipe chega na porta da escola, abre um sorriso de satisfação. E quando perguntam seu nome, ele responde: Fiipinho da Garatuja.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Deus no céu, pediatra na terra

Na manhã da alta da maternidade, a médica passou no quarto. Falou que estava tudo bem com o Felipe e que dali a três dias eu deveria levá-lo ao pediatra para ver se ele estava ganhando peso. Levá-lo ao pediatra. Qual pediatra? Já era pra ter um pediatra antes de ter filho?

Nessas horas a gente recorre às amigas experientes ou ao médico milenar da família, aquele que fez o parto da sua mãe quando você nasceu... Ou pega o livro do convênio e tenta a sorte grande. As sugestões que recebi tinham um problema de logística: longe da minha casa. Esse foi um dos critérios que decidi levar em conta na hora de escolher o pediatra.

Como eu confio quase cegamente no meu ginecologista/obstetra, resolvi pedir a ele uma indicação. Sabia que o Dr. Soubhi iria me sugerir alguém com uma linha de trabalho semelhante à sua. E assim eu cheguei até o Dr. Oscar.

Liguei para marcar a primeira consulta. Estava um pouco aflita, pois a pediatra da Pró-Matre comentou que o Felipe tinha um pouco de icterícia fisiológica e que eu precisava colocá-lo no banho de sol e acompanhar a evolução do caso. Pronto! O suficiente pra eu enxergar amarelo em todas as partes do corpo do meu filho e querer levá-lo ao médico ontem...

O Dr. Oscar só tinha horário na segunda-feira. Mas acho que, diante da minha ansiedade, fez um remanejamento das consultas e conseguiu me encaixar no dia seguinte, sexta-feira. Ponto pra ele. Ganhou um espaço no coração inseguro e aflito de toda mãe de primeira viagem.

Ficamos quase uma hora e meia conversando com o pediatra. Levei um caderninho cheio de perguntas, na tentativa frustrada de resolver as angústias maternas (ah, se um caderninho resolvesse...).  Aliás, tive até vergonha de mostrar aquilo pra ele. Perguntei sobre o banho, sobre amamentação (devo dar os dois peitos na mesma mamada? Ou o bebê deve esvaziar um e depois o outro?), sobre cólica, sobre posição de dormir, sobre os alimentos que eu podia comer, sobre fralda, sobre assadura, sobre soluço, sobre cortar unha, sobre chupeta, sobre Felipe e ar-condicionado (era janeiro, fazia um calor desgraçado), sobre Felipe e cachorro (o Guile, um Golden Retriever - meu presente de dezoito anos), sobre tanta coisa que eu nem me lembro mais.

E o Dr. Oscar achou brilhante minha ideia de anotar tudo no caderninho. E o Dr. Oscar me respondeu cada pergunta com a maior paciência do mundo. E o Dr. Oscar me deu o número do celular dele, dizendo pra eu ligar a qualquer hora, se fosse preciso. E eu saí do consultório do Dr. Oscar menos insegura e feliz por ter acertado o pediatra na primeira tentativa!

Sábado de carnaval. Praia. Calor insuportável. Casa sem ar-condicionado. Felipe com dois meses, chorando bastante, visivelmente incomodado. Boa hora pra testar a disponibilidade do médico. O Dr. Oscar me atendeu de imediato. Disse que, além de calor, o Felipe podia estar com cólica - coisa que ele nunca tivera até então. Ainda precisei ligar outra vez durante o feriado. Caiu na caixa-postal, mas meia hora depois, meu celular tocou e o pediatra me tranquilizou novamente.

Aliás, há uma semana, o Felipe teve uma conjuntivite. Resolvi o problema por telefone e, no dia seguinte, foi o Dr. Oscar quem me ligou para saber se estava tudo certo com o pequeno.

Para mim, pediatra e obstetra que não dão o número de um telefone particular (em caso de emergência, que fique bem claro) não servem. Pediatra, principalmente, tem de ser disponível. No primeiro filho, tudo é desconhecido e mãe necessita de segurança - com bom senso, obviamente. Também não vamos encher o saco do cidadão no almoço de domingo pra saber se o Aptamyl é melhor que o Nan.

Em geral, as pessoas me acham uma mãe tranquila. Confesso que grande parte dessa minha tranquilidade deve-se ao Dr. Oscar, que sempre me atendeu nos momentos em que mais precisei. Porque quando nem simpatia, nem reza e nem Tylenol Bebê resolvem, o jeito é apelar pro celular do pediatra!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A pior mãe do mundo

Pensei sobre esse post várias vezes, mas sempre dei um jeito de fugir dele. Porque escrever é uma forma de relembrar, e as lembranças daquele dia são horríveis. Decidi passar por cima dos meus fantasmas e ser generosa - compartilhar minha experiência para que ninguém precise passar pelo susto que passei e pela culpa que senti. Vamos aos fatos:

Sábado de sol e tempo ameno. Eu, o Felipe e uma amiga fomos na Jorge Alex, uma loja de sapatos aqui em São Paulo. Ela dirigindo e nós dois no banco de trás. O Felipe tinha três meses e estava no bebê-conforto. Como ele pouco se mexia, eu mantinha o péssimo hábito de não prendê-lo com o cinto de segurança (na cidade, em distâncias curtas). Chegamos no estacionamento da Jorge Alex e, na hora que tirei o bebê-conforto do carro, senti meu braço leve. Não entendi o que havia acontecido. De repente, olhei pro lado e o Felipe estava de cara no chão. De cara no chão! Com três meses, veja bem, eu derrubei o meu filho no chão! Ele, que dormia um sono tranquilo, deve ter tomado o maior susto quando caiu do bebê-conforto. 

Aquela cena foi uma das piores coisas que vivi. Desesperada, catei o pequeno do chão - que berrava sem parar. O rosto dele estava um pouco ralado no supercílio direito e no nariz. As pessoas tentavam ajudar, aconselhavam corrermos pro hospital. Eu fiquei que nem uma barata tonta. Não sabia se entrava na loja pra lavar o rosto dele, se entrava no carro de novo, enfim... Diante do meu desespero, o Felipe não se acalmava de jeito nenhum. A pessoa que deveria transmitir-lhe um pouco de segurança e conforto, não tinha a menor condição de fazê-lo. 

Decidimos ir embora, rumo ao São Camilo, hospital do lado de casa. No carro, eu chorava aos prantos, dizendo para a minha amiga que eu era uma merda de mãe, como podia ter derrubado meu filho no chão. Eu me sentia a pior mãe do mundo.

Aos poucos, o Felipe se acalmou. Coloquei ele no peito, santo remédio, e ele mamou bastante, mas ainda dando aqueles soluços de quem chorou demais. Recobrei parte da sanidade mental e tentei descobrir como ele tinha caído, de que altura etc... Falei com o pediatra antes de entrar no hospital. Eu, a mãe super-calma até então, tentava chorar menos ao telefone para que o Dr. Oscar entendesse minhas palavras. Ele perguntou se o Felipe havia ficado roxo, se teve convulsões e outros horrores mais. "Não, pelamordedeus, nada disso! Ele chorou muito por causa do susto e dos machucados, penso eu". Contei também que o Felipe mamou no carro e, em seguida, ficou bem calmo. "Marina, com certeza foi um grande susto. Mas, pela sua descrição, o Felipe parece estar bem. Não acho necessário levá-lo ao hospital. Apenas observe se algo diferente acontece com ele". 

Apesar do "diangnóstico" tranquilizador, a culpa castigava meus pensamentos. Continuava me sentindo a pior mãe do mundo só de pensar no que poderia ter acontecido naquele dia e em tantos outros em que fui imprudente dispensando o cinto de segurança do bebê-conforto. Ao chegar em casa, quis contar pro meu marido, por telefone, o ocorrido. Ele ficou tenso no início e foi se acalmando ao ter certeza que o Felipe estava bem. Sua reação foi a melhor possível. Não me culpou, não me julgou, não me recriminou. Aí, me peguei pensando se ele derrubasse o Felipe, qual seria a minha reação. A pior possível, certamente. A de mãe-histérica-desesperada-puta-da-vida com o pai que não sabe cuidar do filho direito. "Vai, Marina, toma essa na cara!" (e veio a vida de novo me dar lição de moral). 

Contei o episódio pra minha mãe, que se solidarizou. Conversando com ela, descobrimos como o Felipe caiu no chão. O bebê-conforto tem uma alça. Quando tirei ele do carro, essa alça, provavelmente, não estava travada. Ao estender o braço, a alça foi para trás, provocando um movimento de pêndulo no bebê-conforto. Ou seja, ele verticalizou e o Felipe deu com a cara no estacionamento da Jorge Alex. Ao chegarmos a essa conclusão, fiquei um pouco mais tranquila, afinal, a queda não foi tão grande assim. Quando estendi meu braço, o bebê-conforto estava próximo do chão. Mas nem por isso, me senti melhor. Aliás, toda vez que olhava pro Felipe e via os ralados no rostinho dele, me dava vontade de chorar.

Lembrei do conselho do Dr. Oscar, repetido, invariavelmente, a cada consulta: "Jamais, em hipótese alguma, deixe o Felipe sozinho no trocador, nem por um segundo! Se precisar virar as costas para pegar algum objeto, segure ele no colo e, só aí, pegue o objeto. Já tive muitos casos de pacientes que caíram do trocador quando a mãe se virou para pegar alguma coisa. No geral, as crianças se recuperam bem. Em compensação, os pais, dificilmente se esquecem do susto e da culpa".

Foi exatamente isso o que aconteceu, embora num outro contexto. Precisei passar por um susto gigante para  JAMAIS, EM HIPÓTESE ALGUMA, ANDAR COM O FELIPE SOLTO NO BEBÊ-CONFORTO.

Se me recuperei? Olha, a verdade é que, depois daquele dia, eu nunca mais voltei na Jorge Alex.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

15 dias e 15 noites

Sair da maternidade. Coisa difícil. Porque lá, no geral, tudo vai de vento em popa. O bebê nem chora muito, as enfermeiras te ajudam na amamentação, trocam fralda, dão banho, esclarecem as dúvidas, resolvem problemas. Uma amiga sensata e super otimista me disse o seguinte: "Marina, se prepara! Filho é que nem brinquedo paraguaio: na loja, funciona que é uma beleza. Aí, você chega em casa, começa a dar defeitos e não aceitam devolução". "Legal, Renée! Fiquei bem mais tranquila agora!" Tive essa conversa no dia anterior à saída da maternidade. Diante da minha ansiedade e insegurança, a Renée (mãe do Caio, de um ano e meio), tentou me animar: "São quinze dias bem difíceis, mas, depois deles, você tira de letra e parece que já nasceu mãe. Pense sempre que o próximo dia será mais fácil." Valeu a intenção, Renée!

Antes de sair do quarto, senti o que me esperava. O leite resolve "descer" para o peito bem na hora de ir embora (nos primeiros dias, o bebê mama o colostro). Eu usava sutiã 42. Coloquei um 46. A enferemeira me alertou para não deixar o leite empedrar, pois no começo, a produção de leite pode ser muito maior que a demanda do bebê. Ou, seja, até equilibrar oferta e demanda, você tem que ORDENHAR (isso, que nem vaca mesmo); dar um jeito de tirar o excesso de leite dali - seja com bombinhas ou na raça. Resumindo, saí da maternidade com um puta mau-humor, porque meu peito estava inchado e dolorido demais. Fora que a enfermeira me ensinou a tal da ordenha e achei impossível.

Quando entrei no carro com o Felipe no colo, caiu a ficha. "Agora é comigo." No caminho, olhava pela janela com um olhar diferente. Sabia que a vida tinha mudado, mas ainda não sabia que mudanças eram essas. Cheguei em casa e fui recebida com cartaz de boas-vindas, banquete no almoço, tudo arrumadinho. Estranho. Eu não deveria estar feliz por chegar em casa? No lugar da alegria, sobrava angústia, ansiedade, preocupação. Aquela frase "será que eu vou dar conta" martelava meus ouvidos a cada cinco minutos. Nem fome eu tinha.

Fugi das primeiras trocas de fralda. Me aproveitava da desenvoltura do meu marido (que já era pai) e da empolgação da minha mãe para adiar essa difícil missão! Nem cogitei dar banho, afinal, o Felipe saiu da maternidade cheirosinho. "Fica pra amanhã!" De três em três horas, amamentava ele. Ele dormia, acordava, mamava, dormia, acordava, mamava, dormia... Aí, a noite chegou.

Nossa! A primeira noite. Como esquecer? Um calor insuportável e, pra completar, eu com a cinta pós-parto, me esquentando e me incomodando. O marido sugeriu: "Deixa que eu ficou do lado do Felipe, pois você precisa descansar." Hahahahah! Ele não acordou nem com o choro do bebê! Cada barulho diferente que o Felipe fazia era motivo pra eu passar por cima do meu marido, debruçar desesperada em cima do moisés (tipo um bercinho) e ver se ele tava respirando. Óbvio que essa ideia brilhante não resistiu à segunda noite.   E eu, que tinha o sono mais pesado do mundo, passei a abrir os olhos só com o arrastar dos chinelos no corredor. "Oi! Você é mãe? Prazer, meu nome é sono leve e, a partir de agora, vamos conviver por muito tempo."

Segundo dia, o Felipe no mesmo esquema: dormir, acordar, mamar, dormir... Resolvi que era hora de encarar a troca de fraldas sem ajuda. DIFÍCIL. Tinha medo de machucar o pequeno. Ele chorava, se mexia e me deixava ainda mais nervosa. E trocar a roupa toda, então? Sufoco. Me sentia uma inútil. Uma inútil e desajeitada, que não era capaz de trocar o próprio filho! Demorei uns três ou quatro dias para aprender e trocar sem trauma! Segundo dia... E teve o banho!

Na maternidade, eles ensinaram da seguinte maneira: lava a cabeça com o bebê enrolado na toalha. Depois, desenrola, lava o corpo e enrola de novo. Acho que para ele não sentir frio, sei lá. Bom, o que já era  complicado, ficou mais complicado. Minha mãe olhava aquilo e dizia: "Eu nunca vi um banho desses, em etapas." "Ok, mãe! Na maternidade ensinaram assim, eu vou fazer assim!" Que porcaria de banho, coitado! Abandonei o modelo "maternidade" de lavar bebês na segunda semana. E não me arrependi.

A maior dificuldade nesses primeiros dias foi lidar com meu peito. Eu produzia uma quantidade absurda de leite e o Felipe não mamava nem metade. De tempos em tempos, o leite empedrava e doía muito. Aí, tinha que fazer massagem para "desfazer" as pedrinhas e ORDENHAR. Cheguei a sentir enjoo de tanta dor. Essa história durou até eu e o Felipe encontrarmos o ponto de equilíbrio, quando a curva da oferta e da demanda, finalmente, se cruzaram...

Os dias passaram. Surgia o medo de engasgo, tédio por não sair de casa, calor... Mas também, apareciam os primeiros sinais de confiança, de cumplicidade, de maturidade (minha), de tranquilidade. No fim das contas, a Renée tinha razão. O dia seguinte era bem melhor que o anterior. Ao final da primeira semana, a vida estava menos complicada. E, ao final da segunda semana, aquilo tudo parecia muito familiar.

Quinze dias e quinze noites para descobrir que eu sempre soube ser mãe.




domingo, 21 de agosto de 2011

O parto sem glamour

Nove meses mais tarde, hora de conhecer a cara do pequeno. E na marra, porque ele tava bem acomodado dentro da barriga. Então, como quem vai no dentista, marquei a cesárea. Escolhi até o dia: 10/01/2010 (achei bonito!), oito horas da manhã. Vou contar agora, o parto que é o parto e um pouco depois do parto.

Cheguei na Pró-Matre às sete da madrugada, isso quer dizer que acordei às seis. A primeira etapa, na recepção, é bem burocrática. Assinar papéis, esperar o aval do convênio, esperar quarto disponível etc. Eu fui pra cirurgia ainda sem teto. Várias outras mães também acharam a data 10/01/10 promissora e agendaram o nascimento de seus filhos, o que resultou em super-lotação na maternidade.

Antes do centro cirúrgico, passei por uma sala de preparação. Respondi um questionário com mil perguntas sobre minha saúde, coloquei o avental, a touca, mediram pressão e temperatura. Em seguida, me colocaram na maca e me carregaram pelos corredores. Família desejando boa sorte. Aí o nervosismo apareceu. Eu tava morrendo de medo da anestesia...

Sala de parto
Quando entrei na sala de parto só tinha uma enfermeira cuidando dos preparativos. Ela conversou comigo, disse pra eu ficar calma, que não doía nada. Perguntou: "Quem vai nascer hoje?" Respondi que não havia decidido o nome ainda. Tocava Marisa Monte. O centro cirúrgico era bem claro (dã!), cheio de parafernálias médicas e parecia novo. Do meu lado esquerdo, o tal vidro translúcido.

Alguns minutos se passaram e notei um rosto familiar. Descobri que a instrumentadora do médico era a sua secretária, Solange, que tantas vezes me recebeu no consultório. Pequeno alívio. Ela, cheia de expectativa, falou: "Consegui essa sala com o vidro translúcido, não é demais?". Pra ser sincera, achava bem estranha a ideia das pessoas assistirem ao parto do lado de fora. Eu lá, toda aberta, umas dez mãos em cima de mim, e a galera na plateia. Tipo um "reality parto". Mas aí, a Solange explicou que o médico só acionava o dispositivo momentos antes do nascimento do bebê, pra mostrar à família mesmo, e, em seguida, desligava. Ok. Se é assim, vá lá...

O parto começou com 20 minutos de atraso porque o anestesista resolveu dormir um pouquinho mais. Ele me posicionou na maca, sentada, e pediu para que eu ficasse relaxada. Ahã. Super possível. Enquanto isso, meu médico segurou minha mão. Um, dois, três e... Agulhada na coluna. Vou ser sincera de novo: nem doeu tanto assim. Muito menos pior do que eu imaginava. O Dr. Soubhi saiu da sala para chamar meu marido, que ia acompanhar a cesárea.

Nisso, a anestesia começou a  fazer efeito. Aí, leitores, o bicho pegou. Primeiro que fiquei bem tonta, parecia que vinha um desmaio pela frente. E a sensação de não sentir nada da cintura pra baixo é bastante desagradável. Principalmente pra mim, que sou hipocondríaca, e ficava imaginando se o efeito da anestesia não passasse nunca. A equipe perguntava: "Consegue mexer o dedão do pé?", "Consegue levantar a perna?". Não, eu não conseguia mexer nada.

Quando o Dr. Soubhi entrou novamente na sala de parto (com o meu marido a tira-colo) soltou o seguinte comentário: "Nossa! Ela branqueou total!" Bacana, Dr. Soubhi! Minha hipocondria agradece! Grudei os olhos no monitor que media a frequência cardíaca e a pressão arterial, pra ver se eu chegaria viva no final da cirurgia! Colocaram o oxigênio e começaram a me abrir. Meu marido sentado, assistindo tudo e ainda narrando os acontecimentos para mim! A presença dele me tranquilizou e, aos poucos, parei de sentir o mal-estar inicial.

Lembro do anestesista ching-ling em cima de mim, empurrando a barriga pra baixo, pois o Felipe não queria sair de jeito nenhum. 8:47 eu vi o bichinho todo ensanguentado. Pausa dramática. Três segundos depois, ele abriu o berreiro. Grande alívio. (A gente ainda não sabe nada da vida de mãe, mas sabe que o bebê TEM que chorar logo quando nasce). Não vou tentar encontrar palavra para explicar o que senti naquele instante. Seria perda de tempo da minha parte e da de vocês, que estão lendo. Só posso dizer que é tudo muito intenso. Sentimentos de uma intensidade que jamais imaginei que sentiria na vida. Pronto. Paro por aqui.

Ah! O vidro translúcido. Quando acionaram o dispositivo, vi os olhares cheios de expectativa e ansiedade dos meus pais, da minha sogra e da minha enteada. E, quando o médico tirou o Felipe, mostrou para eles e fez um sinal de positivo, vi aqueles olhares se transformarem em lágrimas. Vi expressões apreensivas se transformarem em um monte de sorrisos que transbordavam orgulho e felicidade. Tenho que dar o braço a torcer e concordar que o tal vidro translúcido permitiu que eu compartilhasse o momento mais importante da minha vida com as pessoas mais importantes da minha vida.

O Felipe, que virou Felipe ali mesmo, rosto colado com o meu, foi fazer os exames de praxe e, em seguida, foi levado para o berçário. Meu marido saiu junto com a enfermeira e começou a terceira e mais demorada etapa do parto: costurar as sete camadas. Os médicos conversavam sobre eleições da reitoria da USP, opinavam sobre fulano, beltrano e afirmavam que, se conversavam tanto, era porque tudo corria bem.

Ali eu já estava tranquila. Ainda aproveitei a anestesia para tirar uma pinta da barriga. No final da cirurgia, o Dr. Soubhi deitou no chão e começou a se alongar. Figura. Um pouco antes de sair da sala de parto, comecei a sentir uma coceira bizarra. Meus braços coçavam muito! Perguntei o motivo daquela coceira toda e a médica auxiliar falou que era por causa da morfina presente na anestesia. Até podia dar um remédio pra diminuir a coceira, mas tinha risco de reduzir o efeito da anestesia e aumentar a dor. Escolhi a coceira.

Sala de recuperação
Fui para a sala de recuperação, esperar sentir minhas pernas de volta e esperar vagar um quarto também. Parte chata essa! A sala, na verdade, é uma grande enfermaria, dividida em cabines. E você fica ali, deitada, olhando pro teto, pensando na vida. Na sua e na que você acabou de parir. Tem gente que dorme. Admiro e invejo! Tem gente que reclama da coceira. Tem gente que pergunta se vai demorar pra sair daquele marasmo.

Conforme o efeito da anestesia passava (minhas pernas voltaram, uhuuu!!!), comecei a sentir uma dor beeem forte no corte da cesárea. A enfermeira me aplicou uma injeção e disse que só me liberaria pro quarto quando a dor diminuísse. 10, 20 minutos e a dor persistiu. Analgésico via oral. 10, 20 minutos e a dor persistiu. Marina desistiu. Entendeu que a dor não iria embora e mentiu. "Diminuiu a dor. Pode me liberar".

Quarto 
Cheguei no quarto quase duas da tarde. Familiares, amigos, filhos de amigos... todo mundo esperando pra dar os parabéns e saber como eu estava. Sentia tanta dor que, ao ver aquela pequena "multidão" à minha espera, cogitei pedir que me levassem de volta à sala de recuperação. O Felipe foi pro quarto logo depois, dormia um sono gostoso. Eu, sem forças, tentava contar da anestesia, da cirurgia, enfim... Cada risada, uma pontada!

No meio disso tudo, teve o momento amamentação. Um capítulo à parte, conforme contei em outro post. Recebi muitas visitas, o Felipe ganhou um monte de coisinhas novas e, ao final do dia, só me sobrou o cansaço. E a dor no corte. Lá pelas 11 da noite, duas enfermeiras foram me ajudar a tomar banho. Levantar da cama: missão impossível. Não conseguia estender o tronco, parecia uma velhinha corcunda.

E aí, no dia seguinte, um pouco menos de dor, um pouco menos de ansiedade e muito mais intimidade com o Felipe. De repente, você vira expert em "mamadas", segura o bebê com total desenvoltura e quer contar tudo isso para as visitas. Esse processo dura até o último dia de internação, quando você quase não sente mais dor, já está familiarizada com a cria e tudo vai às mil maravilhas. A tranquilidade a um botão vermelho de distância. É só chamar que a enfermeira resolve. Conselho de amiga: aproveite cada instante de paz na maternidade. Porque chegar em casa é um outro parto.




quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A relação entre umidade do ar e falta de texto

Com esse ar bizarro de São Paulo, não demorou e o pequeno ficou doente. Nada grave, mas o suficiente para deixá-lo em casa por alguns dias. Felipe em casa, mãe do Felipe impossibilitada de sentar na frente do computador por mais de cinco minutos consecutivos. Ou seja, nada de textos aqui no blog.

Felipe já está bem, voltou pra escola hoje. E eu comecei a escrever sobre o parto e o tal vidro translúcido que comentei no post anterior. Até sexta-feira publico. Sem falta!

Ah! Comprei um umidificador de ar. O pediatra (e outras tantas mães e pais) sugeriu. Ficou ligado na sala. Percebi uma grande diferença. O Felipe agradeceu. E meus olhos também! O ar desértico paulistano está ressecando meus olhos mais ainda por causa das lentes-de-contato.

É isso!
Beijos,

Marina Galeano